Raul Drewnick*
O amor deveria ser como um passatempo domingueiro, um passeio pelo parque, uma troca de sorrisos e beijos miúdos – nada que obrigasse ninguém a nenhum compromisso, a não ser talvez o de um novo encontro no domingo seguinte, desde que, naturalmente, houvesse sol.
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Aos domingos, se trabalhassem, os poetas deveriam ter licença para falar apenas de flores e bem-te-vis.
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As falhas bem que poderiam prescindir de nós e cometer-se por si sós.
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Na estante os livros que mais têm impressões digitais são os romances policiais.
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Amor? Hahaha. Conte outra.
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Do amor não ficará um clamor. Talvez só um rumor, um bulício. E o que pensa ser o amor para querer mais do que isso?
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Me agradaria ter uma carrocinha e ser encarregado de recolher toda noite as estrelas caídas por descuido do céu e levá-las aos orfanatos em que vivem os meninos mais tristes e as meninas mais sonhadoras.
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Não me acharias tão mofino assim, se conhecesses o menino que há dentro de mim.
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Em certos mortos é fácil ver que, se não fosse o rigor imposto pelas circunstâncias, explodiriam em gargalhadas ao ouvir, no seu último dia, os elogios que durante a vida toda lhes foram negados.
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Sobre os túmulos de homens que foram humilhados pelo amor, regados pelo mijo dos cachorros vadios, nascem flores mirradas e doentias, que parecem mocinhas tuberculosas tossindo sob um sol de inverno.
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Na história de Julieta e de Romeu, só ficou vivo quem não morreu.
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Pensar é tão cansativo… De que me serve saber por que razão estou vivo, se posso apenas viver?
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E chega o momento, afinal, em que morrer passa a ser um direito adquirido.
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Se queres ter paz, não queiras ter nada.
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Até para não fazer nada é preciso ter alguma persistência.
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Nunca precisei vender um poema para matar minha fome. Essa é possivelmente a principal causa do meu fracasso.
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Frases curtas podem significar que a concisão foi respeitada, como deve. Mas podem denunciar também a preguiça de quem escreve.
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Para ser completo, falta-me tudo.
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* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Gosto dos dois: Rubem Alves e Raul Drewnick
Isso é que é me colocar em boa companhia, Isabel. Puxa!
Boa tarde filósofo poeta! Domingo sem você é dia morto sem flores e beija flores, sequer borboletas.
Não exagere, Mariza. Quando ouço elogios, eu borboleteio pela sala, em torno da lâmpada.
Raul, querido.
Amor, antes que se achegue muito…, é preciso esclarecer a ele: detesto gatos. Mas de uns tempos para cá, eu o leio, Raul, como quem brinca de “encontre o gato”.
Sinal de que o gatinho preto – que toda manhã espera até a cama estar arrumada para então se deitar – me seduziu ou coisa pior. Tipo: descobri que prefiro gato a cachorro.
Os teus, que foi deles? Colocou pra lavar, no varal para secar? Já devem estar esturricados…
Seria possível, dos gatos de estimação com parada respiratória, extrair deles a pele-de-gato, e sendo muitos, costurar um mosaico, fazer um tapete? E a palavra gatabrice – cruza de gato com macabrice -, existe?
(Ah, amor, não se prenda aos gatos…)
Abraço,
Auri
Auri, ando falando tanto de gatos que às vezes imagino se já não é uma chantagem emocional. A maioria das pessoas ama os gatos. Amei os que tive, também. Quase todos morreram tão dolorosamente que eu, covarde, não os acolho mais. Ficam lá fora, miam, me chamam (Raul, você sabe, é o primeiro nome que qualquer um deles aprende). E eu… eu… fujo do amor que me oferecem como se eles fossem emissários da pior das calamidades. Eu é que sou seco. Gatabrice? Não creio que exista a palavra nem essa associação. Os gatos são ternos, meigos e uma porção de coisas mais. Abraço
Lembrei de você, Raul =). http://universointeligente.org/estudo-cientifico-diz-que-seu-gato-pode-querer-te-matar-assim-como-os-felinos-selvagens/
Henrique, se for um gato palmeirense, acredito na hipótese – e haverá um nexo racional na coisa…
Miauraul… Miauri… Sim, eles apelam.
Não sofra só.
Nem os gatos mais são confiáveis? Cruzes!!!
Um rumor, um bulício, tá bom demais. De acordo.
Salve, Marco. Acautelemo-nos – isto é, agautelemono-nos.
Agautelemo-mos…
Última e talvez certa forma: agautelemo-nos. Uma rata atrás da outra…