Carlos Castelo*
Ai, que lombeira! Já fiquei fatigado na festa de abertura. Lembrou-me o Samba do Crioulo Doido, do Stanislaw, com Santos Dumont na mesma praia de índios, ritmistas de escola de samba e bicicletas-floreira. Ufa!
Depois tome gente correndo, nadando, sacando, socando, saltando, se dopando. E a Terra de Santa Cruz se notabilizando no judô, tiro, vara e boxe, o que explica muito sobre nós mesmos.
Outro fator que merece reflexão, e tem grande correspondência com isto, é o Exército recebendo 70% das medalhas numa Olimpíada civil. Seria uma profecia do que se dará com o Bananão depois do desembarque de 21 mil soldados nas ruas, avenidas e morros da Cidade Maravilhosa? É sabido que os nossos homens de caserna adoram manter posição depois que a conquistam. Basta ver quanto tempo permaneceram no mesmo sítio após aquele 1º de abril de 1964 de funesta memória. Em função disso, o momento pede uma torcida ainda maior que a do Maracanã pelo ouro futebolístico. Oremos e roguemos a todos os santos.
Após as primeiras reações ao Evento veio o ludopédio. Mais uma vez presenciamos a usurpação do ex-esporte bretão pelo poder público, pelo poder econômico, governo, empresas, entidades oficiais e pelo marketing.
O próprio presidente-twitter (discursos de até 140 caracteres) foi postando com celeridade em sua rede social: “a seleção olímpica de #futebol conquista #ouro inédito em momento histórico do país. Hora de nos reerguermos com a grandeza do nosso #BRA!”.
O “grandeza do nosso #BRA” me recordou a campanha publicitária de um certo banco. Mas, tudo bem, banqueiros harmonizam com o Feteapá, Festival de Temeridade Que Assola O País. Já o significado exato deste “reerguermos” é o que assistiremos nos próximos episódios da série House of Cards, versão candanga.
Infelizmente, minha estafa não parou por aí. Teve ainda o episódio dos nadadores ianques que bancaram os pinóquios de posto de gasolina, o técnico alemão que expirou num acidente de trânsito, o francês que saiu obrando e correndo, o africano que cruzou os punhos em protesto contra a matança do seu povo, Usain Bolt saindo com ex-mulher de traficante. São tantas olimpílulas que daria até para fazer uma lista do Buzzfeed.
Isso sem mencionar o quesito Neymar. Esse provou, com todas as letras, não ter espírito olímpico, só uma vaga mediunidade. E olhe lá.
Exauriu-me tanto a Rio 2016 que não consegui nem ver o Encerramento. Aliás, das poucas coisas coisas em comum que possuo com Michel Temer – entendo perfeitamente a ausência dele na cerimônia de entrega da pira ao Mario Bros. Chega uma hora que ninguém aguenta mais tanta superação.
Entretanto, o que mais esfalfa a gente é tomar contato agora com essa dura realidade. Centenas de heróis concorreram ao ouro. E agora milhões de mortais vão concorrer ao pagamento da conta.
Ai, que lombeira!
Deem-me licença para tomar um fôlego: logo começa a maratona das eleições municipais.
________
* Carlos Castelo é escritor, letrista, redator de propaganda e um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. Na RUBEM, escreve quinzenalmente às quartas-feiras.
Boa noite! Até ler sua crônica estava me sentindo perdida fora do ninho! Entre tantos milhões parecia que a única desinteressada e enfadada, extremamente cansada de mais um circo, era eu, no entanto argumentava comigo mesma tentando me fazer ver a importância histérica dos esportes e das Olimpíadas, mas para mim, não era o nosso momento e nem a prioridade! Realmente cansou ou melhor desgastou em razão da falta de oportunidade ante a realidade que vivemos! Pé no chão minha gente! Vamos encarar a nossa realidade de frente!
por favor, leia-se histórica e não como constou no comentário acima.