Cyro de Mattos*

O pai disse:

– O pai é pra trabalhar.

O filho disse:

– O filho é pra desfrutar.

O pai disse:

– O pai é pra dar.

O filho disse:

– O filho é pra embolsar.

O pai disse:

– O pai é pra suportar.

O filho disse:

– O filho é pra não esperar.

O pai disse:

– O pai é pra ensinar.

O filho disse:

– Isso ninguém vai  mudar.

O pai disse:

–  Essa bola pode parar.

O filho  disse:

– Bola pra lá, pra cá.

O pai disse:

– Tudo passará.

O filho disse:

–  Como uma onda no mar.

O  pai disse:

– Hoje sou eu.

O filho disse:

– Amanhã não mais será.

O pai disse:

– Você deve aguardar.

O filho disse:

– Um dia vou lhe alcançar. .

O pai disse:

– Para sorrir.

O filho disse:

– Para lembrar e chorar.

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*Cyro de Mattos é contista, poeta, cronista e autor de livros para crianças. Conquistou o Prêmio Internacional de Literatura Maestrale Marengo d’Oro, em Gênova, Itália, com o livro “Cancioneiro do Cacau”, o Afonso Arinos da Academia Brasileira de Letras, com “Os Brabos”, contos, e o APCA com “O Menino Camelô”. Finalista do Jabuti três vezes. Tem livros publicados em Portugal, Itália, França e  Alemanha. Distinguido com a Ordem do Mérito da Bahia. Pertence ao Pen Clube do Brasil . Na RUBEM, Cyro de Mattos escreve quinzenalmente às terças-feiras.