Sei que este é um espaço para sonhar, aperfeiçoar o texto, encantar leitores. Mas não tenho sonhado muito, porque estou sob tortura, daquelas que massacram pouco a pouco, diariamente, covardemente como todo abuso.

Há tempos o telemarketing tinha me esquecido, mas agora voltou com força total. Os infelizes telefonam às 8, às 9, às 10 e não entendem que não atenderei qualquer chamada desconhecida. Os números que aparecem na tela são falsos: o prefixo é da região, mas logo se revela do Rio de Janeiro e outras localidades. Bloqueio todos eles.

Meu melhor sono acontece pela manhã. E é nessa hora que os diligentes comunicadores resolvem ligar. Acordo assustada, pensando nos parentes e amigos, levanto com alguma dificuldade e, quando digo alô, nada acontece. Ou pior, desligam imediatamente.

Já houve noites em que acionei o despertador mecânico e deixei o celular desligado, para poder dormir em paz. Mas aí o sono é agitado, preocupado com o que pode estar acontecendo, se a família precisa de mim, se chega algum recado urgente…

Sonhos, nem pensar. Torturados não sonham. Noto que uma espécie de trauma está se instalando em mim. Vai chegando a hora de dormir e fico mal, imaginando a tortura da manhã. Alô, Embratel. Anatel, Claro, Vivo etc. onde andam vocês?

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Madô Martins é escritora e jornalista, com 18 livros publicados, sendo três de crônicas: Voo de Borboleta (2009), Som das Conchas (2017) e Longos dias (2021). Escreve quinzenalmente na RUBEM, às sextas-feiras.