Escritor lança livro de crônicas na quinta-feira (18/07), em Porto Alegre.

Rubem Penz não é apenas um cronista, mas também um cultor da crônica. Suas oficinas sobre o gênero já são conhecidas e celebradas em Porto Alegre, e ultimamente ele tem alcançado o público de outros estados através de um curso online sobre a crônica. Já conduziu trabalhos inspirados nas crônicas de Antonio Maria, de Rubem Braga, de Paulo Mendes Campos… E essa bagagem se reflete também nas crônicas do próprio Penz, que não se atém a um único estilo de escrever, mas salta com naturalidade entre vários deles. É por estudar o gênero que Penz sabe das muitas possibilidades que a crônica oferece e então a aproveita de todas as maneiras.

Ali estão as crônicas líricas, líricas e experimentais como as de um Paulo Mendes Campos. Uma infinidade de frases dessas crônicas seriam versos, se a disposição do texto fosse outra. Versos talvez não apenas de um poema, mas de uma letra de música. A música, em verdade, é uma das paixões de Penz e ele a traz também para o universo da crônica, às vezes como epígrafe, às vezes como mote e às vezes pela própria construção do texto. É certo que a promessa que dá nome ao livro não se cumpre, pois há ali o amor, há textos que são sentimento do começo ao fim, há sentimentos perecíveis e outros não, há saudade, há amizade, há amor a uma filha.

Sendo crônica e, como tal, filha do tempo, também a passagem das coisas merece a atenção do escritor. As coisas mudam, é verdade, mas não necessariamente morrem. Elas são mais ou menos como o jazz, que continua, mesmo tendo morrido o momento e a circunstância que o fizeram nascer. Para o cronista, passaram-se 50 anos e ele faz um relatório dos últimos dez, bons o bastante para ter descoberto a sua própria missão. Há memórias, há lembranças, com as quais o cronista recria a sua vida. Mas não se trata de um escritor excessivamente apegado ao passado. Penz também demonstra as suas inquietações sobre os rumos da humanidade.

Admite ser complicado projetar um futuro mais solidário. Constata o divórcio ocorrido entre o poder constituído e o bem comum. Mas, igualmente, não se trata de uma visão pessimista demais. Apesar do “recall” que, talvez, seja necessário à vida inteligente, ainda transparece nas crônicas de Penz uma certa esperança. E o bom humor, é claro. Pequenos absurdos cotidianos revelam tendências da sociedade e são levadas ao seu paroxismo, gerando inevitáveis risadas, sem que se perca de vista a crítica do cronista. Nesse ponto, “Milton” é uma das melhores peças, destacando-se ainda “Pedro e o lobo”, um conto de fadas que nada tem de ingênuo.

E, já que também é para rir, Penz apresenta alguns divertidos esquetes e promove algumas brincadeiras, inclusive em série, caso de “Dança das cadeiras”, em que explora os prováveis resultados que uma simples troca de posições causaria na redação de um jornal, e também do impagável “Conto com patrocínio, literatura de resultados”, em que brinca com o que seria a “mercantilização” do texto literário. Experimentações não faltam, e uma das mais criativas é “A voz da consciência”, em que o narrador tem, digamos, uma companhia ao pé do texto. Há sátiras, há até crônicas em verso – porque a crônica, além de conteúdo, é também espaço.

Por falar em verso, uma construção que Penz gosta bastante de trabalhar é a de “antecantos”, espécie de refrão que se repete a cada início do parágrafo, dentro do qual ele, o cronista, irá desenvolver e esmiuçar diferentes visões sobre um mesmo mote. O refrão fornece e também amplifica o significado daquilo que está sendo dito. Penz está sempre atento à forma, como também às palavras, às expressões, seus usos e seus significados, e às vezes uma simples conjunção, como um “e”, já serve para se discutir de maneira descontraída a linguagem, a produção do texto, a relação com o leitor, e sabe-se lá se também não a própria vida.

O cronista também se mostra atento aos conflitos entre homem e mulher, o que sempre rende diálogos divertidos, mas também análises curiosas e mesmo teorias comportamentais mais sérias. Pois o cronista também sabe falar a sério. Ele discute, por exemplo, a função da arte, bem como reflete sobre crianças que são jogadas no lixo não apenas no sentido literal. Há ainda homenagens a Mocyar Scliar e a Clovis Ibañez. E, ao fim de tudo, há a certeza de que se trata de um cronista que sabe explorar com habilidade as possibilidades que a crônica oferece.

Henrique Fendrich 

Hoje não vou falar de amor e outras crônicas – Rubem Penz
Editora Metamorfose, 2019, 200 p. 

SERVIÇO

O que: Noite de autógrafos de Hoje não vou falar de amor e outras crônicas (Ed. Metamorfose)
Quando: Dia 18 de julho, quinta-feira, a partir das 19h
Onde: Bar Apolinário, Rua José do Patrocínio, 527, Cidade Baixa, Porto Alegre, RS (estacionamento no local)
Valor: R$35
Contatos:
Autor no e-mail rubempenz@gmail.com | WhatsApp e telefone (51) 99123-5540
Editora no e-mail contato@editorametamorfose.com.br