Estocolmo seria o nome ideal para aquele tipo de mulher que, única na perturbadora opulência de sua carne, não faz senão negá-la a vida inteira.
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Escrever todo dia pode te fazer bem, mas fará à poesia?
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A vida foi sempre uma ilusão, é certo, mas nunca como no tempo dos musicais da Metro.
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Escrever é um vício barato. Bastam uma canetinha, um bloco e uma ingenuidade com pretensões de idealismo.
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Os amores impossíveis não se resignam. Crescem reprimidos, ignorados, e engendram flores de olor ácido e frutos de letal veneno, regados pelo mais feroz e inapaziguável de todos os rancores.
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A presença dos poetas parnasianos era denunciada pelo cheiro dos cisnes e dos pombos e pelo tilintar das chaves de ouro.
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Certos discursos fúnebres são tão escandalosamente laudatórios que o homenageado só não cora porque não pode.
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Os que morreram de amor têm hoje o nome reverenciado: Afonso, o sonso; Edgar, o muar; João, o bundão; Arnaldo, o tapado.
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Se você ouvir minha voz, não se deixe enganar. Pode um morto falar?
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Escrevo cada dia menos. Deus ouviu as preces dos meus leitores.
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Quando desço o porrete no que escrevo, não é questão de modéstia, mas de honestidade.
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Com o último poeta romântico morreu o segredo de transformar flores em poesia.
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Se escrever é algo que você faz até dormindo, é bem hora de acordar.
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Há quem aceite Deus como criador do mundo pela simples razão de que para tudo há de haver sempre um culpado.
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O objeto mais triste do mundo é um sofá sem um gato.
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* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Já escrevi! Isto está uma bagunça!
Desculpe Raul! Adoro e me faz muito bem ler o q escreve! Até sugeri q venha a ser semanal mas a moda agora é nos obrigar a escrever varias vezes o comentário e hoje quando vi já tinha reagido. Está na moda inovar e sempre para pior!
Mariza, eu também tenho me enrolado quando escrevo respostas aqui. Nunca acerto na primeira. Quanto mais mexo nesta engenhoca, menos ela me respeita. Preciso requisitar urgentemente a assessoria do meu neto… Tudo anda me estranhando – a Internet e o resto. Espero que meus votos de um domingo ensolarado cheguem a você.