Luís Giffoni*
Massacres, chacinas, extermínios em massa sempre frequentam o noticiário. O ser humano nunca se cansa de matar o semelhante. Não importa quão civilizado o país se julgue, ele sempre será bárbaro quando lida com o outro, com o diferente. Quer exemplo mais contundente que a invasão do Iraque pelos norte-americanos? Segundo cálculos feitos nos Estados Unidos e na Inglaterra, mais de um milhão de civis iraquianos teriam sido dizimados pelos bombardeios ordenados por George W. Bush. Quer outro exemplo, mais recente? Os mortos na Síria, contagem que varia entre duzentos e trezentos e cinquenta mil desde o início do conflito. Quer um exemplo do Brasil? Aqui aconteceram mais de cem mil homicídios no ano passado, número maior que o de vítimas no conflito da Síria em 2015. Uma guerra civil não declarada assola nosso país. Dez por cento dos homicídios do mundo ocorreram aqui. Dez por cento num país que tem menos de três por cento da população da Terra.
Neste exato momento, assisto a um tiroteio entre três facções rivais de venda de drogas no bairro da Serra, em Belo Horizonte. Os combates acontecem dia e noite. Ouvi-os sobretudo nas madrugadas, com armas pesadas, de repetição. A polícia só agora deu as caras. Há uma concentração de viaturas na praça principal do Conglomerado da Serra. Dizem que várias pessoas morreram. Entre elas, meninos de 13 ou 14 anos, que nesta semana exibiam metralhadoras pelas ruas da comunidade, orgulhosos de seu poder. E mais tarde não hesitaram em dispará-las contra os adversários.
Em BH, como no resto do país, há uma clara ausência do Estado no combate ao tráfico de drogas, vácuo que permite o surgimento de enclaves independentes dentro do país, com leis próprias, como o toque de recolher hoje em vigor numa parte do Conglomerado, implantado pelos bandidos. O Estado proíbe o consumo e o tráfico de drogas, mas não consegue impedir que aconteçam. Mudar a lei seria uma solução?
Diante do quadro, algo mais triste me assola: o pequeno valor dado à vida humana. Como disse acima, não importa o país, tampouco a época. Todos matam. Descendo ao interior da nossa sociedade, os 100000 homicídios anuais mostram que os indivíduos também matam. Somos violentos. Violentos desde que surgimos no mundo. Daí minha tristeza maior. Sempre acreditei que, no século 21, nos respeitaríamos e viveríamos em iguais oportunidades para todos. Viveríamos uma democracia. A utopia desaba. E desabamos todos juntos.
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* Luís Giffoni tem 25 livros publicados. Recebeu diversas premiações, como do Jabuti de Romance, da APCA, do Prêmio Nacional de Romance – e de Contos – Cidade de Belo horizonte, Prêmio Minas de Cultura – Prêmio Henriqueta Lisboa. No momento trabalha num romance que viaja pela América do Sul. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos sábados.
É tamanha é tão triste realidade a miséria do ser dito humano! Tão grande e avassaladoras realidades do mundo, em especial a do nosso mundo delimitado por fronteiras imaginárias e impressas em cadernos de cartografias ( ainda existem? Se estuda?) Crianças durante muitos anos ganharam do Papai Noel por ocasião do Natal ( aniversário Daquele que apregoou o AMOR) armas de brinquedo e hoje essas crianças a elas afeitas empunham armas pesadas, armas de verdade da mesma verdade que impera em seus mundos e vidas! E que valor tem uma ou dez mil vidas? Querem diminuir a minoridade , até que ponto? Chegaremos a estica-la, retrocede-lla ao útero materno ou limitaremos o número de filhos? Resolveríamos o problema? Brutalidade e desamor! Ganância e prepotência! Desrespeito e menor valor ao outro e ao que é do outro! Ou se burila o caráter , e principalmente se dá exemplos saudáveis e dignos ou… A humanidade se extinguirá!
Acho quase injusto dizer “todos matam” quando o que se vê são homens matando.
As mulheres, no geral, lutam por sobreviver, e salvar os seus filhos dos homens, enquanto eles mesmos não viram homens, e se matam.
Um dia destes, animais que somos, talvez descobriremos, como muitos animais descobriram bem antes, que havendo um bom reprodutor no bando, os outros podem morrer. A história já provou isso dezenas de vezes. Está no gene. Suportamos tantas vezes a morte em massa que já não dói em nós.
Talvez nosso governo já entenda desta maneira faz séculos é nós é que nunca soubemos… Sabe Deus o que pensa o governo!!! A CF não é leitura obrigatória para ser eleito no nosso país.
Todo dia, tudo que fazemos é ir na onda de algum idiota, pregador ou líder, cuja única meta que conhece é: ficar rico, não importa o custo. Fundamos partidos e levantamos bandeiras a isso.
Resultado é que somos o que somos. Somos a platéia. Somos os fiéis. Somos os peões na mão dos bandidos. Somos o bando.
Desfilemos a nossa raiva disfarçada de alegria! Afinal, hoje é dia…
Auristela