O Brasil inteiro assiste o intenso momento dos tantos in. E o que impressiona é a inoperância diante do fenômeno, como se fosse tudo normal, intrínseco ao nosso tempo.

A indiferença para com o próximo é descortinada nas calçadas das grandes cidades o tempo inteiro, sem que cause a mais pálida inquietação.

Uma crescente onda de intolerância foi tomando conta das redes sociais, insidiosa e ferina, maculando amizades outrora íntimas. Tornando o trato indecente.

Outro infortúnio comum ao cidadão é a incompetência das instituições em se mostrar inconciliáveis com a corrupção. Incrível: honestidade se tornou atributo incomum.

Incalculáveis desvios de conduta são vistos com ­indolência pelas autoridades constituídas e, pior, com incógnitos interesses ao sabor de desejos indefensáveis. Algo inacreditável.

Basta um pouco de dinheiro ou poder para alguém se tornar intocável. Enquanto isso, no inaceitável subsolo social, a menor indisciplina incha nossas indignas prisões.

Dos protestos explícitos aos recados indiretos, nada parece incitar reações. A incongruência está incrustrada na sociedade. Pouco pode o indivíduo diante do insolúvel.

Sob a influência das intrigas, das inverdades ou das invenções, até intelectuais são manipulados. Que dirá os incultos… Faltam intérpretes confiáveis para indicar as (in)verdades.

Mas, o que esse insipiente cronista estaria insinuando? Quais interesses estariam interferindo na insólita prosa? Mera inquietação, ou intrigante conluio?

Quem quiser, que investigue minha obra, inquira-me nas ruas, invente motivos para este involuntário desabafo. Pouco adianta inverterem a responsabilidade.

Ao fim e ao cabo, pareço mero intrometido. Inoportuno incendiário que não vê inquestionáveis avanços nos últimos 20, 30 anos. Estarmos todos atrás de grades, por exemplo, é detalhe inócuo.

Certos mesmo estavam os rapazes do Ultraje a Rigor quando, intensamente, repetiam: “inútil, a gente somos inútil!”.

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*Rubem Penz, porto-alegrense de 1964, é publicitário, escritor e músico. Produz crônicas semanais desde 2003, inicialmente publicadas apenas na internet e, depois, em veículos do Brasil e exterior. Seu livro de estreia, O Y da questão e outras crônicas, foi finalista dos prêmios Açorianos de Literatura e Livro do Ano pela Associação Gaúcha de Escritores (AGES). Atualmente é cronista do jornal Metro Porto Alegre. Desde 2008 ministra oficinas de crônicas em sua cidade natal, com destaque para a oficina Santa Sede – crônicas de botequim, que já alcança a quarta antologia. Em RUBEM escreve quinzenalmente às sextas-feiras.