Felizes são os jovens, que desconhecem o amor. Basta-lhes o sexo, que preenche suas necessidades de exercício físico e de entretenimento. Falta ao sexo, é verdade, o que hoje mais atrai a juventude: a adrenalina. De resto, ele é perfeito.

***

Ao contrário do que às vezes tentam nos impingir, saudável é o sexo, não o amor. O sexo não é enjoadinho. É objetivo, direto, eficaz. Sabe o que quer, o que pode, e não esconde isso. O amor adia para um futuro inalcançável algo que está ao alcance de qualquer um em cada esquina, com o requinte da cama redonda e o jantar executivo, talvez até com azeitonas chilenas no cardápio.

***

Velho demais para saber as particularidades do sexo virtual, ele se pôs a imaginá-las e chegou a uma conclusão quase nostálgica: a coisa não deve ter mudado muito em comparação com aquilo que era no seu tempo, com uma importante diferença: hoje não há mais aquele gosto de pecado.

***

O sexo é um entretenimento que, por engano ou má-fé, frequentemente é catalogado sob a rubrica Amor.

 ***

Um de meus filhos, quando tinha seis ou sete anos, revelou com uma frase curiosa que estava despertando para o sexo. Assistindo a uma cena de beijo na tevê, ele disse, remexendo-se na poltrona: “Pai, eu estou ficando com raiva no pinto.” As novelas, já na época, mostravam seu poder pedagógico.

________

Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.