Se eu disser que vivi para escrever, talvez acreditem em mim, como às vezes eu acredito.

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Uma das grosserias com as quais os homens julgavam em longínquos dias homenagear as mulheres era dizerem que tal ou qual, por serem bem-fornidas, mereciam ser enaltecidas como o prato principal de um banquete para duzentos talheres.

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Se Deus não houver, sabemos o que faremos quando o dia vier? Que mão, que gestos, que braços, que passos nos nortearão?

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Minha tristeza e minha poesia são amigas de infância.

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Se o poeta fosse um objeto, deveria ser um violino.

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O que mais me encantou na poesia foi ela, embora eu fosse não mais que um menino, não me censurar pela tristeza que já começava a me pesar na alma.

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Alma minha gentil que te partiste deste mundo de dor e provações, que possas ter aí, onde subiste, a companhia da alma de Camões.

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Se em mim alguém suspeita algo de Shakespeare encontrar, fiquem todos à vontade: podem me revistar.

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Que fazem aqueles poetas, aquele grupo egrégio, aquela excelsa confraria? Que prodígio régio, que taumaturgia busca essa seleta companhia? Ou projeta um florilégio ou arquiteta uma crestomatia.

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As tristezas que em boa hora de minha casa bani, que morram todas lá fora e não me voltem aqui.

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Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.