Num poema antigo, para saber se o barco navegaria rio abaixo ou rio acima, bastava seguir a rima.

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Um amor frustrado e algumas lágrimas já não bastam para transformar alguém em poeta, mas ainda são um bom começo.

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Não sei se o que mudou foi o mundo ou se foram os poetas. Fato é que há muito tempo nenhum deles se dispõe a carregá-lo nos ombros.

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Se Deus se encontrasse com Shakespeare, quem chamaria quem de mestre?

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Parece inacreditável, ainda hoje, que Ulisses tenha sido escrito por um homem só, mesmo que esse homem seja James Joyce.

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Os poemas concretistas são os únicos com seguro para defeitos de fabricação.

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O poeta romântico dorme sobre os louros; o concretista, sobre pedra e cimento.

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O monumental poema concretista de Petras Pedrygullios foi inaugurado com a presença de altas autoridades militares, civis e eclesiásticas.

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O poeta concretista atribui à inveja e às pragas lançadas pelos parnasianos as rachaduras surgidas em sua obra-prima um mês depois de concluída.

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A musa de um poeta concretista, talvez o mais famoso de todos, era a pirâmide de Quéfren.

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À segunda edição de sua antologia o concretista acrescentou um playground e uma piscina.

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Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.