A persistência é uma virtude literária. Há quem precise de várias décadas para se provar um mau poeta.
***
Em alguns raros momentos de bom humor, admito que não deveria me preocupar com a poesia; ela é que, se zelasse pelo seu nome, deveria se preocupar comigo.
***
Se você não chegou àquele ponto de se considerar um poeta fracassado, talvez seja o caso de perseverar um pouco mais.
***
Considerar a literatura uma espécie de missão talvez não seja o ideal, mas, se for o seu caso, não se poupe.
***
Mexes com a minha ternura. Quando ela se vai, chamada por outros acenos, tu vais buscá-la e a repões no caminho dos teus braços.
***
Ontem me afligia a qualidade, Hoje, me atormenta a quantidade. Ontem eu escrevia mal. Hoje eu mal escrevo.
***
Impossível não imaginar que Mario Quintana tenha sido um menino bom de assobio.
***
Tantas vezes foi o jarro à fonte que aprendeu o caminho e agora já vai sozinho.
***
Na loja de artigos poéticos, uma liquidação de réguas para medir alexandrinos.
***
O gramático sovina conseguiu desconto no tapetinho de bem-vindo porque lhe faltava o hífen.
***
Assim como no jogo e no amor, também na poesia ocorre e chamada sorte de principiante.
***
Os poetas que mais se frustram são aqueles que insistem em ver na poesia não uma atividade artística, mas uma profissão.
***
Destituído da glória artística e descrente de qualquer outra, o velho poeta conserva poucos traços de grandeza. Um deles é considerar o sol seu parente. Toda manhã ainda o cumprimenta: bom dia, Helinho.
_________
* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Ah Raul, claro que o menino Quintana era bom de assobio. E você, ao nos lembrar o poeta, me fez perceber que ainda te falta publicar teus saborosos epigramas. Ele tem o Caderno H e o teu bem que poderia ser o Caderno R. A dúvida que resta é saber se seria R de RUBEM ou de Raul.
Anthony, o Quintana era um passarinho que assobiava Lupicínio. O Caderno H é talvez o que ele fez de mais simples e espirituoso. Um primor. Quanto aos meus epigramas, quem sabe alguém decida publicá-los. Por enquanto, estão disponíveis no meu blog (www.rauldrewnick.blogspot.com). Dará algum trabalho encontrá-los, porque estão no meio de mais 36 mil textos. Uma loucura. “Caderno R” seria um bom título. Abraços
E aí, Henrique, topa fazer essa seleção?
“Impossível não imaginar que Mario Quintana tenha sido um menino bom de assobio.” A semana está salva.
Salve, Cássio. Você é um bom salvador de semanas.