Reunião é daquelas coisas tristes inventadas pelo homem. Um bando de gente fechado numa sala, em volta de uma mesa, discutindo por horas uma questão que podia ser resolvida em minutos. Quanto mais gente participa, mais demorada e inconclusiva ela é.

Numa reunião, Ricardo quase nunca é Ricardo, Sofia quase nunca é Sofia: cada um deve se mostrar superior, dominador de todos os assuntos, e absolutamente necessário. Deve fazer uma expressão de quem tem certeza e dar sempre uma opinião – na maioria das vezes, dispensável. E vamos convir: o café que está na garrafa térmica desde a manhã também quase nunca é café.

 Sempre há um jeito de piorar: algumas salas não têm janelas – ou, quando têm, há uma cortina ou persiana para impedir a visão do que acontece lá fora. É imprescindível impedir os participantes de olhar a vida lá fora. O tema da reunião é o que importa na vida: mesmo quando não está muito claro qual é ele, todos devem focar no tema, discuti-lo, abordar todos os pontos, os prós e contras (principalmente os contras), jamais discorrer sobre siris, guarda-sóis e ventos noroestes. Para, enfim, chegar à conclusão de que será preciso uma próxima reunião para tratar do assunto.

Dou aqui mais uma colaboração à humanidade (tenho essa mania). No caso, a solução definitiva para a insônia: assistir a um vídeo de uma reunião, na íntegra. É pá, pum. No que começa o histórico do mercado, passando para o diagnóstico do problema, o terceiro gráfico com um círculo azul, um pedaço de pizza amarelo e flechas vermelhas, os olhos já vão pesando, pesando…

Reuniões de condomínio, então, com seus quiprocós e caneladas, são a prova definitiva de que o ser humano é um projeto mal sucedido. Desde o início, fica claro que a moça do 32 não suporta o homem do 61 e irá contra todas as suas sugestões. Ela será apoiada pelo casal do 94 e será tratada com rispidez pelo engenheiro do 83. O síndico tentará controlar os ânimos, mas, após perder a paciência, dirá que ninguém valoriza o seu trabalho, para imediatamente pôr em discussão o polêmico projeto de permitir aos cães usarem as áreas sociais do condomínio. Nesse momento, atrasado e já meio mamado, chega o novo morador do prédio (o da reforma infernal e interminável) e interrompe cada aparte para contar um caso gozadíssimo. É quando o homem do 61 se levanta, arrastando a cadeira, e diz que tem coisa mais importante a fazer, o que fará a moça do 32 abrir um sorrisinho sarcástico.

Nas empresas, as reuniões devem ter muitos participantes, uma pessoa que ninguém sabe bem por que está ali, projeções numa tela, papel, lápis e canetas de pouca serventia, já que cada um tem seu próprio notebook. Uma secretária deve sempre interromper para pedir para a diretora sair da sala por um motivo urgente, justo a única com o poder de decidir o que quer que seja. Numa reunião que se preze, a pessoa que sai da sala jamais voltará à sala, para que tudo permaneça sem solução.

Para uma coisa servem as reuniões: para comprovar como a vida é gostosa fora delas.

Mas vamos convir que essa crônica empacou, não vai chegar a lugar algum. Já sei: vou convocar uma reunião pra gente discutir como ela pode melhorar: cortar certas passagens, discutir alguns pontos, burilar os parágrafos. Chamarei todos, ouvirei as críticas, os pitacos, serei elogiado por uns e desmascarado por outros. Por via das dúvidas, vou abrir as cortinas para o enrosco acabar logo.

Se a reunião durar mais que 15 minutos, eu jogo a crônica no lixo e parto pra outra. Já fiz muito isso.

_________

Cássio Zanatta é cronista. Já foi revisor, redator, diretor de criação, vice-presidente de criação e voltou a fazer o que sabe (ou acha que sabe): redatar. É natural de São José do Rio Pardo, SP, o que explica muita coisa. Na RUBEM, escreve quinzenalmente às terças-feiras.