O amor seria uma boa justificativa para a sua cara de sonso, se você estivesse em 1958 e tivesse vinte anos.

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Do amor não aceitemos nada aquém de tudo.

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Se amor não é o que te move, não te movas.

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Se eu tivesse bigode, poderia talvez parecer mais simpático na orelha do meu livro de poesia, se eu lançasse um.

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As coisas não são como me pareciam. Eu pensava que usava as palavras, e as palavras é que me consumiam.

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Maria amava Mabel e Mabel amava Maria. Seria só uma demonstração de amor, se não fosse um gracioso exemplo de aliteração.

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Um haicai é uma brisa que aprendeu a prender a respiração e se fingir de morta.

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Antes de se lançar como sonetista, o poeta deve arranjar um pseudônimo e contratar um bom advogado criminalista.

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É um poeta superior. Se lhe pedissem, voaria. É um poeta de antologia.

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Errar é humano, mas talvez eu não precisasse exagerar tanto.

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O olhar guloso da condessa quando vinha com a mão certeira: me deixa ver teu passarinho.

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Com a carteirinha, a cesta básica e outros benefícios legais, os poetas desdenharam as flores e os passarinhos e alistaram-se entre os arautos das causas sociais.

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Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.