A pandemia tem seu lado B, e a letra é de bom. Mais uma vez, a arte superou o desamparo e, ao longo desses meses todos de confinamento, preencheu o vazio. Íntimos da solidão, escritores recriaram o caos, produzindo livros. Reviraram as gavetas da memória, tiraram o pó da estante dos sentidos, remexeram as entranhas da imaginação, fazendo nascer novas obras, com os mais diferentes formatos e temas, para os mais variados leitores.
Espelhos portáteis, alguns livros abordam nosso momento, inquietações e carências, a falta da mais completa tradução. E acertam o passo com quem os lê, propondo reflexões sobre um tempo que é todo novo e chegou sem bula. Outros oferecem o escapismo da fantasia, acariciam o olhar com o belo, difundem utopias.
Estão à venda, mas são quase frutos proibidos entre livrarias às moscas e bolsos vazios, mil preocupações de ordem prática e empregos por um fio. Sobreviver brilha em neon em todas as mentes. A internet nos alenta, oferecendo atalhos aos que têm acesso às redes. Com ela irrigamos, com textos, sons e imagens, o deserto da mente que precisou desaprender a rotina e da alma, tão precisada de germinar emoções positivas.
Até quando vai durar este estado de exceção, ninguém pode determinar. Cigarras cantam enlouquecidas, como em qualquer verão; crianças brincam ruidosamente, como em todas as férias; gatos dormem ao sol, cães latem atrás dos portões. O medo só contaminou os adultos, tirando-se os covidiotas. Precisam de livros, para retomar o fôlego, superar o desencanto e enfrentar mais uma temporada de incertezas. Que sobrevivam os escritores e demais artistas!
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* Madô Martins é escritora e jornalista, com 16 livros publicados e mais de 1.000 crônicas impressas aos domingos no jornal A Tribuna, de Santos/SP. Na RUBEM, escreve quinzenalmente às sextas-feiras.
Quinzenalmente leio a sua crônica, é com prazer que o faço e tem sido a minha Vacina Literária que tem ajudado a ultrapassar estes últimos tempos bem negros.
Este, será o ano da esperança para que possamos voltar à normalidade, de forma a viver e conviver com a alegria estampada nos nossos rostos.
Com resiliência, aguardamos pela chegada da vacina mais desejada.
Obrigado e parabéns.
Caro F., a literatura e demais artes nos aliviam a carga de viver. Obrigada pela mensagem.