Ele nunca perguntará se ela o ama. Não se arriscará a perder a única ventura que lhe resta: a de imaginar que sim.
***
Condenados à castidade, os amores impossíveis trocam beijinhos no rosto e morrem em olor de castidade.
***
Sou do tempo em que o Café Caboclo era irmão do Açúcar União.
***
Dizemos, naturalmente, falar em nome da literatura. Embora ela, naturalmente, não concorde.
***
Um parente rancoroso murmurando ao ouvido do defunto, no velório: me chama agora de fracassado.
***
Não cheguei a ser um poeta. Fui no máximo um versejador aplicado.
***
Aos olhos da nova crítica, sonetos não são feitos nem escritos; são cometidos.
***
Sua campanha de reabilitação moral vem dando certo: já há mais de um ano ninguém lhe pergunta se ainda faz sonetos.
***
Morrer é uma prerrogativa: não morre qualquer um, só morre gente viva.
***
Conhece-te a ti mesmo, se não tens nada mais interessante a fazer.
***
Quando eu era menino, diziam-me que eu tinha certo jeito para escrever. Talvez tivesse. O que nunca tive, acho, foi o jeito certo.
***
O que dois tolos melhor sabem fazer é compartilhar o amor.
***
Que lastimáveis são certos velhos quando se põem a falar do amor, com os olhos lúbricos e a saliva aflorando aos lábios, como se estivessem numa churrascaria, diante de um pernil.
***
Era um fantasma bissexto, que mais sumia do que aparecia.
***
Um fantasma suíço sempre chega à meia-noite, nunca além ou aquém disso.
***
Sem vergonha e sem desdouro, o poeta concretista conserta agora os versos no martelinho de ouro.
***
Nos últimos tempos, quando falo comigo noto um mútuo constrangimento
_________
* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
“Quando eu era menino, diziam-me que eu tinha certo jeito para escrever. Talvez tivesse. O que nunca tive, acho, foi o jeito certo.” Dá uma alegria ler coisas assim, nem lá muito verdadeiras, mas escritas de forma exata. Grande Raul.
Alexandre, às vezes acho que o menino que fui não foi nada além de uma criação do atual velhote.
Raul poeta, boa segunda feira e espero que sem gosto de guarda-chuva na boca! Estou só hoje aqui porque ontem fugi de mim e dormi sentada o domingo inteiro. Hoje viva, vim me deliciar com seu espírito sempre vivo e tiradas geniais. Boa semana. Até a próxima.
Raul poeta, boa segunda feira e espero que sem gosto de guarda-chuva na boca! Estou só hoje aqui porque ontem fugi de mim e dormi sentada o domingo inteiro. Hoje viva, vim me deliciar com seu espírito sempre vivo e tiradas geniais. Boa semana. Até a próxima.
Mariza, respondo numa terça-feira carrancuda, chuvosa e fria como uma daquelas tias que, assumindo a guarda dos sobrinhos, pensa na melhor forma de apoderar-se de sua herança. São Paulo supera-se a cada dia em desolação e tristeza. O mundo anda desagradável. Mas toquemos o barco (o melhor veículo para estes dilúvios diários.
Ri alto com a do parente rancoroso!
Henrique, o que faríamos sem os parentes, esses simpáticos torcedores de um time que nunca é o nosso?