Se alma não for uma questão de merecimento, nossas chances de ter uma aumentam cem por cento.
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A última moda acaba de chegar: poemas concretos movidos a energia solar.
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Um haicai não se procura. Um haicai se recebe de joelhos, como se deve fazer sempre que os deuses, embora não mereçamos, resolvem nos presentear.
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Abra só meio sorriso. Ou nenhum, se não for preciso.
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Enfeitei tanto minha poesia que já na primeira esquina buzinaram para ela e perguntaram quanto era.
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Saudável tempo o das musas amplas e sólidas, cujos seios podiam, sem exagero e com afeto, ser chamados de peitões.
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O tempo flui. mas que importa? Por um ardil da memória, aquela manhã de glória morreu, mas não está morta.
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Não há mais tempo para modernismos na poesia. Até os manifestos já nascem tão velhos quanto os princípios que pretendem derrubar.
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Os chocalhos concretistas revelaram-se bem mais eficazes que as cantigas românticas para fazer dormir bebês de seis a vinte e quatro meses.
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Era um desses poetas venturosos que, todo ano, já no primeiro dia, a primavera vai buscar em casa.
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Concretistas não fazem odes. Se fizessem, seria para exaltar o colosso de Rhodes.
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Como sou vil. Tantos querendo salvar o Brasil, e eu aqui fazendo versos.
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Conurbação é o nome dado às relações entre cidades, quando passam da intimidade à promiscuidade.
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Enquanto o vento derruba tudo, buscando epopeias, a brisa finge estar morta, para não espantar os haicais.
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Depois que se descobriu concretista, o galo não sobe mais no poleiro, com medo de cair e se quebrar.
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Certos mortos conseguem ser tão desinteressantes que já na metade do velório é como se não estivessem mais presentes.
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* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Boa noite Raul! Haicai na ordem do dia! Sai lindos mesmo! E Aldravias, terão vez? Um grande abraço e até o próximo! Boa noite!
A poesia sempre tem vez, Mariza. Ou ao menos deveria. É minha modesta opinião. Boa semana.