Era o melhor poeta do município. Dizia-se dele, entre outras proezas, que ninguém matava mais convincentemente um cisne parnasiano.
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É um desses tipos que todos acham normais e agradáveis, até o momento em que, exímios como os pistoleiros do Velho Oeste, sacam um soneto.
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Nas barganhas de amor, a quem pouco pede nada se concede.
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Amor é aquele sentimento compartilhado por dois seres, dos quais um é sempre bem mais tolo que o outro.
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O homem inventou o amor e não soube dar conta dele.
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Em ombros alheios é que as mãos dos chatos gostam de estar, sempre úmidas e afetuosas.
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Poesia se recolhe com peneira, sem rejeitar as intromissões douradas do sol.
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Uma mentira várias vezes repetida passa a ser uma porção de mentiras.
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Já na primeira noite com Alícia, arranhado, mordido, arremessado para fora da cama e cavalgado por ela, entendeu por que os furacões costumam ter nome de mulher.
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A literatura é um daqueles males que, diagnosticáveis na infância, já nessa época devem ser combatidos, antes de se transformarem naquilo que as vítimas chamam de ideal e os compêndios médicos definem como obsessão.
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Por bem ou por mal, o homem morre pela boca na rede social.
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Introduzir a palavra amor numa frase é ter a esperança de que ocorra algo antes do ponto final, ainda que seja aquilo de sempre.
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Repentinamente irada como um vento bíblico, a brisa do parque começou a sacudir o enforcado, como se ele tivesse vida e ela pudesse castigá-lo.
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O poeta insiste em tocar violino para mulheres viciadas no som tribal do tambor.
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Na última convenção trimestral, os poetas concretistas discutiram formas de reduzir o custo dos seguros de incêndio e transporte.
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Querermos que a poesia nos salve não deixa de ser uma demonstração de maturidade. Houve tempo em que nos presumíamos dignos de encarregar Deus dessa tarefa.
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Quando você pensa que o romantismo está superado, passa um passarinho assobiando, e o que ele assobia? Danúbio azul.
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* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Bom dia caro poetab
Estou tentando depois de não publicarem dois já sacramentados. Obrigada poeta!
Também eu tenho tido dificuldades para fazer comentários ou observações. Sei lá o que ocorre. Acho que vai por conta dos meus feios olhos… Um bom domingo para você, caríssima Mariza.