Uma flor faz mais sentido quando interrogada pelo vento.
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As maneiras de enaltecer o amor são tantas quanto os modos de maldizê-lo.
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Estratagema é o tipo de recurso que usaríamos numa conquista amorosa, se não soasse tão pernóstico.
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De um galho da ameixeira, meninos eu vi, brotar um bem-te-vi.
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A melhor companhia que há é um gato escarrapachado num sofá.
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Um haicai não é mão humana que o escreve; um haicai já vem pronto, um haicai se recebe.
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É triste, mas é assim. Meu leão rampante é um cabrito derrapante que não fala latim.
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Tudo é tão simples: viver, morrer. O resto são aquelas elucubrações que delegamos aos filósofos, para não se sentirem inúteis.
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Era um poeta boboca, desses que estão com todos os dentes sempre à disposição do riso.
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Ele busca a verdade como quem na esquina escolhe uma rameira. Apalpa uma, em seguida outra, depois a última. Quando sobe para o quarto, não sabe se está com a primeira, a segunda ou a terceira.
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Sinto-me como um morto antigo, do qual já nem a família se lembra muito bem.
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Maria está tão solitária que quase foi atender à porta quando passou o caminhão gritando Cândida.
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Sente-se desprezível. Não morreu de amor quando podia.
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Entregou-se ao amor como um escravo e, se lamenta algo, é ter tão poucas cicatrizes no corpo para exibir.
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Um morto é um ser perfeito. Nada pode melhorá-lo, nem os livros de autoajuda.
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Pobres românticos antigos, envenenados, enforcados, exterminados pelas próprias mãos.
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Se quem morre é um chato, é sempre mais fácil aceitar o fato.
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Sou dócil por inteiro. Que não possa quem me matar me chamar de mau cordeiro.
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* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Bom dia caro poeta! Deliciei-me e me encontrei em algumas delas, verdade que com as de humor mais britânicos. Abraços! Valeu o domingo, até o fantasma do gato esteve presente!
Mariza, talvez o único item importante nessa patacoada toda seja o gato. Se bem que eu tenha muito afeto ao meu cabrito derrapante, que tão bem resume minha vida e minhas conquistas.
“Sinto-me como um morto antigo, do qual já nem a família se lembra muito bem“ Você não calcula o sucesso que fez esse pensamento! Amei e me identifiquei e citei com seu nome de autor para carios contatos do WhatsApp e não foram poucos os q responderam aplaudindo e se identificando, até uma sobrinha que anda mudinha , alheia e esquecida se sensibilizou, solidarizou ao ponto de dispor de uma das próximas semanas para vir me dar apoio nos preparativos da difícil preparação para mudança de residência e consequente desapego das minhas coisas, livros que amo, cristais de rocha, cada um mais lindo e precioso que o outro, acervo de telas a óleo, alguns com medalhas de prata, bronze e outros, telas que vi pintar ao longo de minha vida tanto que tenho no blog uma crônica sob o título de minha vida ilustrada, todos da autoria de mãe e tios, alguns verdadeiros documentos histórico de paisagens e marinhas já tão mudadas pelo dito progresso!
Compartilhemos algo, mesmo que seja a tristeza.