Tudo que não é poesia me parece laico, prosaico, profano.
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Se é tristeza o que você sente, diga. Se é desesperança o que você tem a escrever, escreva. O que você teme? Você se envergonha de causar compaixão?
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Depois da morte, nossa vida nunca mais será a mesma.
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Não, ainda não morri. Parece que respiro. E continuo escrevendo tão mal quanto sempre.
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Os poetas de megafone derrubam quarteirões com suas rosas suburbanas e seus rosibéis.
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Não há flores mais finadas do que as páginas de antologia.
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O bom de estar morto é que se pode estar assim sem nenhum esforço.
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Como é difícil a poesia do cotidiano: estar andando pela rua e não ter um cisne sequer à disposição.
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Meu bom humor é como uma dessas roupas que se usam só em ocasiões muito especiais.
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E, quando notamos, estamos já caminhando para o crepúsculo.
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Da gramática é possível esperar os piores desaforos. Basta dizer que até os palavrões estão sob sua alçada.
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A prosa pode contentar-se com a exatidão. A poesia deve aspirar sempre à perfeição.
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Ele era um escritor persistente. Oitentão, o que mais podia ser?
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Os filósofos não se satisfazem em pensar. Querem obrigar-nos a fazer o mesmo.
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Não há nada que agrade mais aos poetas que um bom afago, embora eles sempre digam que não o merecem.
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O sol da tarde, antes de se deitar no sofá, perguntou ao gato: “Posso, Majestade?”
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Se eu tivesse morrido em 2010, seria hoje um defunto respeitável, com sete anos de experiência.
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No sucesso das frases curtas, às vezes há mais sorte do que competência.
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Os ideais são como passarinhos. Passam e deixam no ar, quando deixam, só um pio.
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Abandonei meus vícios, todos. O amor? Bem, eu…
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* Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.
Prezados, Gosto de escrever e tenho um pequeno blog, onde sempre público alguns causos e crônicas, tonhodopaiaia.wordpress.com O que é necessário para que os senhores acolham e/ou publiquem textos meus? É possível? Quais regramento a que deve me sujeitar? Seria uma alegria participar com os senhores.
Bom dia poeta! Pura poesia registrar e assim inserir na aridez do cotidiano a ausência da figura altiva , elegante e mítica de um cisne ! Seria ausente porque as princesas já estão também ausentes ou as bruxas mas terem sucumdido nas fogueiras da inquisição? Tenho para mim que iremos encontrá-los possivelmente no Teatro Municipal a dançar a morte do próprio cisne! Abraços Raul Drewinick.
Mariza, não se vê mais nem o bonde que o Drummond perdeu junto com a esperança. Imagino que os objetos poéticos sejam agora os virtuais. Não sei lidar com eles. Bem, talvez não tenha sabido lidar com os cisnes e os bondes – embora na época pensasse que sim. O alívio é pensar que a melhor poesia deve ser aquela que nossas palavras nunca chegam a alcançar.
Quanta delícia.
Salve, Cássio.