(Imagem: Ariadiny Giraldi)

Domingos Pellegrini*

Primeira lição de educação financeira foi quando, menino,  perguntei ao pai porque aquela plaquinha na padaria, e ele explicou:

– Quem pede fiado, diz que vai pagar amanhã mas pode nunca pagar, então o padeiro avisa que fiado só amanhã…

Na Alemanha, vi gente guardando com carinho, no moedeiro, velhas moedinhas de um centavo, tão gastas que mal dava para ver a efígie de Adenauer, o primeiro-ministro que as criou, e era preciso juntar algumas para comprar um chiclete.

– Mas – explicam os alemães – nós as usaremos sempre, pois foi com elas que reerguemos a Alemanha depois da guerra.

Aqui, o comerciante nem ao menos dá mais a balinha em troca dos centavos, e o consumidor acostumou-se a não exigir, mas um amigo economista garante:

– Inflação não começa com um ou dez por cento, começa com 0,1 por cento.

Mas nossa moeda de um centavo foi abolida em 2004. E, agora, banco oficial envia a aposentados cartão de crédito com limite de saldo negativo maior que a aposentadoria. Sei de aposentado por esquizofrenia, e  viciado em drogas, que no mesmo dia torrou tudo em roupas novas e drogas, sem se importar que irá pagar, durante anos, juros mensais de até 2,14%. Com juros sobre juros, além de empobrecer a cada mês, acabará pagando muito mais do que sacou. Quando terminar de pagar a dívida, as novas roupas já terão virado trapos há muito tempo.

Há pouco, o Banco Central aumentou de 30 para 35% o percentual da renda  usável com crédito consignado, e esses novos 5% só poderão pagar dívidas… de cartão de crédito! Assim os bancos, que já emprestam dinheiro consignado a taxas bem maiores que a da poupança, sem inadimplência, com as mensalidades descontadas na fonte, poderão abater mais dívidas em parceria com o INSS, que desta forma trabalha para os bancos sem ganhar nada, ao menos oficialmente. É um ajuste bancário-social, o povo ficando com as dívidas e os bancos com os lucros.

Um dos principais motivos da atual crise é esta: o governo trabalhou e trabalha para aumentar as dívidas da população e desestimular a poupança, exatamente o contrário de países que saíram do fundo do poço graças à poupança, como a Alemanha e o Japão.

Enquanto isso, o Banco Central informa que quase metade da população (46.3%) está comprometida com dívidas. Assim, pagam mais caro e compram menos,  desativando o comércio e a indústria, portanto baixando a arrecadação dos tributos diretos, cobrados pelo governo na fonte, enquanto diminui a massa salarial que paga por esses tributos  no consumo.  Ou seja, para ganhar votos, o governo deu crédito, que endividou o povo, gerando crise que empobrece o governo. A ambição é companheira da burrice.

Enfim, enquanto tanto se fala em ajuste fiscal, o povo continua sendo deseducado pelo governo para se envididar mais, gerando mais crise. É o caso de dizer de boca cheia:

– Dívida? Crédito consignado? Só amanhã!

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* Domingos Pellegrini é escritor, autor de contos, poesias, romances e romances juvenis. Ganhou o Prêmio Jabuti por suas obras “O Caso da Chácara Chão” e “O Homem Vermelho”, além de quatro outros Jabutis em segundo e terceiro lugares. Escreve crônicas para os jornais Gazeta do Povo e Jornal de Londrina. Na RUBEM escreve às segundas-feiras.