Itapoã significa pedra que ronca.

Ituiutaba significa povoação do rio Tijuco.

Cotiporã significa canto ou lugar bonito.

Jabaquara (yabaquara) significa rocha ou buraco.

Chapecó significa chapéu de cipó ou chapadão alto.

Tietê significa rio grande ou verdadeiro.

Muitas de nossas localidades, rios, lagos, serras, enseadas e outros acidentes geográficos têm no seu nome uma origem ameríndia. Os povos originários batizavam a paisagem por sua forma, característica, comportamento, função.

Guaíba significa rio que se alarga. Por isso, dois neurônios são suficientes para adivinhar aonde quero chegar com este texto. Ainda assim, vamos lá.

Recentemente festejamos os 250 anos de Porto Alegre, capital gaúcha. Sua principal característica é estar às margens do Guaíba. A partir do porto, a cidade cresceu em forma de cone nas direções sul, norte e, afastando-se da margem, para leste. Nela estão os últimos e espaçados morros da Serra do Mar. Depois deles há uma paisagem de coxilhas, quando na direção do Pampa, ou dunas mais perto do Litoral. É lindo, aqui.

Durante os festejos de aniversário, surgiu um movimento muitíssimo valioso e legítimo denominado “PoAncestral – Muito além de 250”. Vi de perto seu nascimento que até guarda uma relação com a Santa Sede. Seu objetivo foi – e ainda é – ressaltar o fato de que nossa localidade era ricamente habitada por indígenas muito antes de os casais açorianos montarem sua vila. Os poucos Caingangues que aqui vivem representam numerosos ancestrais. Foram deles a constatação visual de que as águas que sucedem o Delta do Jacuí se alargam. Portanto…

Se desejamos usufruir das belas margens do Guaíba de perto, é preciso levar muito a sério as intervenções de proteção às cheias. O ano 2024 reprisa 1941 e coloca o homem diante de sua fragilidade perante a natureza. O mesmo acontece nas encostas de morros, nos vales dos rios que desembocam no Guaíba e em todo lugar que ocupa o caminho natural da água. O aquecimento global indica menores intervalos entre eventos climáticos intensos. Portanto, ou investimos na prevenção, ou rumamos ao aeroporto. Ops, ele também inundou.

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Rubem Penz, nascido em Porto Alegre, é escritor e músico. Cronista desde 2003. Entre suas publicações estão “O Y da questão” (Literalis), “Enquanto Tempo” (BesouroBox), “Greve de Sexo” (Buqui) e “Hoje não vou falar de amor” (Metamorfose). Sua oficina literária, a Santa Sede – crônicas de botequim, vinte e uma antologias, foi agraciada com o Prêmio Açorianos de Literatura 2016 na categoria Destaque Literário. Na RUBEM, escreve quinzenalmente às sextas-feiras.