Acredito unanimidade nacional: maio não foi um bom mês, apesar de algumas alegrias, como o aniversário do filho e a esperada troca do celular. Os fatos ruins venceram de goleada, no placar do dia a dia, e se estenderam até 1º de junho. Naquela madrugada, perdemos Rubeniza.

Sempre que visito a família, encontro à minha espera o primogênito, a nora, o neto e Rube, a gata de 14 anos, ainda bonita e dengosa. De agora em diante, não mais. Ela começou a ficar apática, e o veterinário descobriu que um de seus rins parara de funcionar. Foi medicada e ficou sob cuidados para, fortalecida, ser operada.

Não deu tempo. Seu pequeno corpo não resistiu e ela nos deixou pela madrugada. Nunca mais acariciar suas orelhas, sentir seu peso sobre as pernas, achar pelos por toda casa, desviar dela no meio do caminho.

Convivia com minha nora desde menina, então, vira-lata assumida. Andava pelos muros com outros felinos, caçava (e comia) pombos. Depois foi amansando, preferindo ficar dentro de casa, deixando-se examinar pelo veterinário e permitindo que a nora lhe cortasse as unhas.

Rube quase não miava e era desajeitada para brincar. Gostava de ficar por perto na sala de visitas, mas tinha cantinhos preferidos, longe do trânsito dos humanos. Como todo gato, apreciava caixas de papelão para dormir e, para rivalizar com o neto, às vezes deitava sobre os brinquedos espalhados no tapete.

Tinha medo de trovões e foguetório, além de evitar janelas. Também ficava inquieta, se algum cachorro se aventurasse pelo corredor. Mas nunca agrediu meu neto, mesmo quando, enciumado, ele a expulsava do sofá.

No último dia que a vi, já estava indisposta. Deixou-se acariciar, mas preferiu se isolar no canto do sofá. Estávamos todos preocupados com sua saúde. Na véspera de sua morte, um gato de metal que enfeita minha sala foi ao chão, reforçando o pressentimento. Pela manhã, recebi a má noticia.

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Madô Martins é escritora e jornalista, com 18 livros publicados, sendo três de crônicas: Voo de Borboleta (2009), Som das Conchas (2017) e Longos dias (2021). Escreve quinzenalmente na RUBEM, às sextas-feiras.