Andam meio fora de moda, os nomes duplos como o meu, José Cássio. Feito os bambolês, quebra-queixos e fãs dos Monkees, são cada vez mais difíceis de encontrar. Ao contrário: o negócio hoje em dia é simplificar, concentrar, fazer do nome o que costumava ser apelido: Zeca, Tom, Mari, Chico.

Mas houve um tempo em que os nomes compostos eram a norma. Não podia haver Luis se em seguida não houvesse um Carlos ou Antônio; Ana se não estivesse acompanhada de Lúcia ou Maria, um João que não viesse antes para salvar Pedro da solidão.

O interessante desses nomes duplos é que, se a gente for ver, só um deles realmente combina com o cidadão. Um nome prevalece, deixando o outro como um estepe, um adereço. Sempre fui chamado de Cássio, às vezes pelo sobrenome Zanatta, e assim o José devia sofrer sério complexo de inferioridade. Se numa lista de espera anunciassem a vez do José, o Cássio aqui não atendia, ficava olhando para a pessoa com a cara mais parva do mundo. Só meu pai, meu irmão do meio e um ou outro amigo passaram a me chamar de Zé, e mesmo isso é recente.

Outro exemplo: tenho duas amigas Ana Lúcia. Uma delas é claramente Ana, a outra é Lúcia. Impossível chamar a que é Ana de Lúcia. Lúcia é aquela outra lá que jamais foi ou será Ana. Não me perguntem o motivo. Todo Antônio Carlos ou é Antônio ou é Carlos.

Antes, era nas chamadas dos professores na escola que os nomes eram ditos por inteiro. Agora, somente nos cartórios, repartições e consultórios médicos. Mas, quando a mãe da gente chamava pra dar uma bronca, aí sim sempre vinha o nome completo: “José Cássio, o que significa isso?” ou “José Cássio, venha já aqui!”. O contrário aconteceu ao futebol brasileiro (seria esse o motivo de sua decadência?): substituíram Didi, Mané, Vavá e Tostão por Carlos Augusto, Henrique Luís e Mateus Donato.

No arranjo de um nome duplo, costuma-se (ou costumava-se) homenagear um membro da família do pai e outro da mãe. Geralmente, os avôs ou avós. Daí às vezes saírem nomes imponentes: Ana Catarina, Carlos Afonso, Paulo Henrique, que parecem não dar liga com bebês carequinhas e de fraldas. Isso acontecia porque, antigamente, cabia ao padrinho ou madrinha de batismo escolher os nomes. Isso mudou, e acho que para melhor.

Na tentativa de igualar a importância, criaram até aqueles nomes que roubam no jogo e colam um no outro. Tipo: Marcantônio, Lucimara, Rosemeire, Ariovaldo, Elisângela. A gente nem consegue saber qual condiz mais com o caráter da pessoa. Depois ela cresce com dupla personalidade e não sabe a razão.

Claro que é uma brincadeira, prosa fiada só para prolongar a conversa, me desculpem se ofendi alguém. A verdade é que cabe somente ao pai ou à mãe – melhor: aos dois em consenso – escolher o nome que acharem mais bonito. Ninguém mais tem nada a ver com isso.

Estão de acordo, meus irmãos de nomes duplos que vagam por aí, nesse mundão de Jesus Cristo? – que, por sinal, era nome duplo, ou nome e sobrenome?

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Cássio Zanatta é cronista. Já foi revisor, redator, diretor de criação, vice-presidente de criação e voltou a fazer o que sabe (ou acha que sabe): redatar. É natural de São José do Rio Pardo, SP, o que explica muita coisa. Na RUBEM, escreve quinzenalmente às terças-feiras.