Era menino e já adepto da sacanagem. Nas aulas de português – que desfaçatez – louvava os vícios de linguagem.

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Escrever cada vez menos – e pedir perdão, mesmo assim.

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Que os amigos nos amem pelos nossos olhos verdes e sejam condescendentes com a nossa literatura.

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Um livro de autoajuda pode auxiliá-lo a ser tornar leve. Mas, se você quiser voar, procure instruções com um passarinho.

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Se um homem de oitenta anos insiste em falar de seus pecados, é muito mais provável que esteja querendo aplausos do que esperando absolvição.

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O velhote diz que anda agora com uma garota doce e deliciosa, e seu rosto se ilumina como se fosse todo formado por papilas gustativas.

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Sou um desses homens cujo maior talento está no exagero com que avaliam suas próprias qualidades.

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Era bem visível o que o rapaz era, com os dois passarinhos que faziam questão de cantar em torno dele, mas mesmo assim ele me estendeu o cartão: Fulano de Tal, poeta.

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A literatura pode ser extremamente cansativa. Perguntem aos leitores.

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Foi um escritor mais perseverante do que os seus leitores.

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É uma dessas mulheres que, se dizem o nome de um homem, fazem qualquer Zeca da Mata transformar-se em Joseph Charles Dubois.

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Só escreva bonito se não puder escrever de outro jeito.

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Adeus para os que me detestem e também para os que me amem: libertas quae sera tamen.

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Na grande inundação uma rima em inho salvou um passarinho e uma rima em ão afogou um leitão.

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Numa novela policial é sempre aquele o assunto: quem já é e quem logo vai ser defunto.

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Numa república ou numa tirania, sempre se dá a João o que se nega a Maria.

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Pelo que sei, o bobo daquela corte é o rei.

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Raul Drewnick é jornalista, trabalhou 32 anos no Estado de São Paulo e na antiga revista Visão. Escrevia crônicas para o Caderno2 e para o caderno Cidades do Estadão, além da Vejinha/São Paulo, Jornal da Tarde e o antigo Diário Popular. Escreveu os livros de crônicas “Antes de Madonna” (Editora Olho d’Água) e “Pais, filhos e outros bichos” (Lazuli/Companhia Editora Nacional), além de ter feito parte de coletâneas e antologias. Possui um livro de contos e duas dezenas de novelas juvenis. Na RUBEM, escreve quinzenalmente aos domingos.