
Enquanto viajava, a rã apressava os longos saltos querendo chegar a tempo em casa de sua parente. Era uma semana de festa no reino vizinho, sabia disso porque vira os cartazes espalhados, que prometiam muita comida, bebida e música.
Era uma fã de festas. Valia a pena até esquecer um pouco a vontade de sossego que a levara a viajar, seu peito inchava de se imaginar dançando no meio daquele povo.
A noite seguia vencida pelos primeiros raios de sol da manhã. Ainda assim, uma multidão levou a rã consigo, em meio a música e dança. Entretida com a alegria, a rã enveredava pelas ruas, sem se dar conta de hora ou lugar.
Passou o dia nesse prazeroso vai-e-vem.
A certa altura, querendo sombra, bateu à porta de uma casinha, na calçada à esquerda de uma rua movimentada. Uma criança abriu a porta e examinou a rã com curiosidade.
— Bom dia — a rã cumprimentou.
Mas a criança nada disse. Mostrou apenas um pequeno quadro negro, onde escreveu com giz amarelo:
Não falo com estranhos e rãs.
Decidida a aproveitar a chance de uma sombra, a rã pediu emprestada a lousa e o giz. Escreveu:
Não precisa falar comigo, se não quiser.
A criança fez sinal de positivo, mas entrou e fechou a porta. Voltou com um vaso de planta quase do seu próprio tamanho, ajeitou a planta ao lado da janela e escreveu:
Fique à vontade.
A rã saltou sobre a superfície do vaso. A terra úmida e as folhas proviam uma boa defesa contra o calor.
Perfeito, respondeu na lousa.
A criança não tornou a entrar. Largou-se no chão entre a porta, o vaso e a rã. Nas mãos, a lousa e o giz.
Logo passou outra multidão e a rã se despediu para seguir embora.
Da próxima vez, não seremos mais estranhos, escreveu a criança.
A rã concordou e com um longo salto se jogou no meio da galera.
A festa está animada, disse para a mãe a criança, ainda na porta de casa, de repente cantando e dançando igual gente grande.
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Marco Antonio é carioca, escritor e cronista. Publicou os contos de “Capoeira angola mandou chamar”, a novela “Cara preta no mato” em ebook, e participou das coletâneas de contos “Clube da Leitura – volume III”, “Escritor Profissional – volume 1” e “Clube da Leitura – volume 4”. Escreve crônicas para a RUBEM desde 2014. Em 2018 lançou “O gato na árvore”, pela Editora Moinhos. Suas crônicas saem quinzenalmente às quartas-feiras.
Alexandre Brandão
27/02/2020
A rã quando é fanha é fã? E a fã que, quando fala, a garganta a palavra arranha, é rã?
rubempenz
27/02/2020
Ãrrã!
Marco Antonio Martire
28/02/2020
num é o bichinho do rãnrãm também… é só uma rã.
Marco Antonio Martire
28/02/2020
Alexandre, pelo que sei, a rã é apenas bonitinha, simpática e amiga do pessoal… hehehe